quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

E tu? Como queres começar viver o teu dia?

No dia em que colocámos o filme da nossa última missão online, recebi um email de um amigo que me surpreendeu e me deixou feliz.

Contava-me ele que há uns tempos tinha recebido um email de uma amiga a relatar uma experiência que tinha vivido à saída do metro. Essa experiência não era nem mais, nem menos que a missão Como Queres Começar o Teu Dia?

Ele partilhou comigo o email e eu pedi à autora (Mariana) que me deixasse publicá-lo no nosso blog.

Aqui está o email. É longo, mas vale muito a pena. Percebe-se bem o impacto que a missão teve numa pessoa que nos era totalmente desconhecida.


Hoje acordei mal disposta, com preocupações e um coração pesado por uma série de coisas. Olhar para o céu cinzento e tristonho também não ajudou!

À medida que me preparava para vir trabalhar, como todos os dias, tentava encontrar força para dar a volta e alegria para ter um bom dia, mas estava complicado. Dei-me conta de como às vezes é difícil lutar contra momentos de tristeza muito fortes, por muita vontade que tenhamos de estar noutra disposição. Fui apanhar o metro em Sete Rio, como todos os dias, que estava abafado e barulhento e anónimo, como sempre, e saí na Baixa-Chiado, sem sequer pensar, por hábito.

Quando me estava a aproximar daquele lanço infindável de escadas que sobe até ao Largo do Chiado, dei por algo diferente na “paisagem” do túnel que vejo todos os dias: estavam três pessoas, umas atrás das outras, um bocado separadas, antes do princípio das escadas, com folhas brancas levantadas, e algo escrito nelas, para que se lesse. Diziam:

COMO

QUERES

COMEÇAR O DIA?

Intrigou-me, e logo ali começam a passar-me explicações pela cabeça, o que será isto? Porquê? Para quê? Quem são estas pessoas? De onde vêem e o que é que isto significa? É religioso? É uma campanha publicitária qualquer? Estão a ser pagos?

Simplesmente, estavam os três muito bem dispostos e simpáticos, não se limitavam a segurar nas folhas mas sorriam, reagiam às nossas reacções…

Sobe as escadas e, no primeiro lance, mais pessoas… uma de cada lado, um rapaz a falar com umas senhoras, uma rapariga a dar-nos um papelinho pequenino a cada um, com o mesmo espírito acolhedor:

BOLETIM DE VOTO

O que é isto? Voto? Isto é político? Que misturada é esta? Intervenção? De quem? Para quem?

Mas, no meio destas perguntas que me apareciam na cabeça, quase por impulso, dei por mim a sorrir com tanta força! Parecia até que a minha cara, que já estava programada para um dia triste, descaído, sem muitas expressões faciais, estava a fazer um esforço tremendo, como quando vamos fazer exercício e há séculos que não fazemos e estamos enferrujados e nos custa ridiculamente mais!

E as escadas rolantes avançavam sempre (são uns 4 lances até chegar ao topo), e lá estava outro no meio:

AINDA TENS O TEU BOLETIM DE VOTO?

E os músculos da cara esticam mais, alongam-se, desprendem-se, numa ginástica facial tremenda – um simples sorriso, que hoje parecia custar tanto.

Outro lance, outra pessoa, outro acolhimento simplesmente tão genuíno:

FALTAM 150 METROS PARA DECIDIRES

E

FALTAM 50 METROS PARA DECIDIRES

Sentia uma antecipação, uma curiosidade enormes! Sentia um burburinho interior nas pessoas ao meu lado, à minha frente, atrás de mim, e senti uma ligação enorme, subitamente, a estes estranhos que estavam a experimentar o mesmo que eu, que por isso se tornaram tão claramente familiares, companheiros, irmãos num caminho rolante eléctrico…

Quando chegamos ao topo das escadas rolantes, uma folha na parede à nossa frente:

É AGORA!

E uma seta para baixo.

Três pessoas, em três atitude totalmente diferentes, cada uma com uma urna de voto à sua frente:

- um com ar pensativo, meio filosófico, distraído, com uma bóina e uma tshirt às riscas;

- um sentado no chão de costas viradas para nós, cabeça baixa, numa atitude totalmente fechada que me angustiou muito de tão forte que era a imagem do seu corpo apequenado, no chão, todo virado para dentro), de camisola preta;

- e um alto, de pé, bem direito, de braços largamente abertos, sorriso, e um chapéu amarelo e encarnado, com enfeites, com camisa de tons claros, emanando alegria, boa disposição, força, virado e aberto para nós.

Votámos, escolhemos.

E, nas escadas que saem do metro para o Chiado e o mundo real o dia de cada, deram-nos um quadradinho de papel, dizendo “Bom dia!”.

BOM DIA

(passa a outro e não ao mesmo)

Saí para a rua com um sorriso de orelha a orelha, e só tenho pena de não ter dado o abraço que me apeteceu dar o rapaz dos braços abertos, e agradecer profundamente.

Fez toda a diferença, mudou a minha perspectiva do dia e deu-me outro alento.

As escadas rolantes que são uma rotina de todos os dias, de todas as semanas, de todos os meses e anos destas vidas – e da minha vida nos últimos seis meses -, tornaram-se numa aventura, num processo, numa transformação.
O dia cinzento, triste, dificil que eu tinha pela frente quando acordei ganhou uma cor totalmente inesperada. Peguei no cinzento e moldei-o, fi-lo meu e, aceitando a tristeza que carrego neste momento, voltei a virar-me de frente para o mundo e pintei o meu dia de rostos desconhecidos, de chapéus amarelos e encarnados com coisas espetadas, do sorrisos e braços tão abertos, de BOM DIAs.

Desculpem-me o comprimento do email, mas senti que era de partilhar.
Melhor que um bom dia assim, só nos encontros!

Como estão?

COMO QUERES COMEÇAR / CONTINUAR / VIVER O TEU DIA?

Mariana Spratley“

ver em http//www.marar.eu/

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